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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PABLO, PABLO OU GUERNICA NA VISÃO DOS BRASILEIROS - 26 DE OUTUBRO DE 1981


JORNAL A TARDE,SALVADOR, 26 DE OUTUBRO DE 1981

PABLO, PABLO OU GUERNICA NA VISÃO 
DOS BRASILEIROS
Guernica do Nordeste Brasileiro, óleo sobre tela de Sante Scaldaferri

O centenário de nascimento de Pablo Picasso está sendo merecidamente comemorado em todo o mundo. Durante 69 anos manteve uma ligação muito afetiva com a França que abraçou como sua segunda pátria desde o momento que saiu em busca de expansão de sua arte e também quando assumiu uma postura política em defesa da liberdade contra o fascismo que se estabeleceu na Espanha franquista. Picasso foi um dos poucos pintores que usufruiu de sua fama com seus quadros, alcançando cifras incalculáveis. Foi um apaixonado, enquanto viveu e a mulher foi uma presença constante em sua vida que durou 92 anos, tendo falecido em 1973. Assim depois de Eva, vieram a bailarina russa Olga Koklova (1917), Marie Therese Walter (1927), a fotógrafa Dora Maar (1936), a pintora Francoiçe Gilot (1943) e finalmente Jacqueline Roque (1954). Um incansável apaixonado que mostrava sua inquietação a cada quadro que produzia e a cada técnica que abraçava e depois abandonava com a mesma suavidade com que deixava suas mulheres. Para muitos, é difícil aceitar esta aparente inconstância, mas é preciso lembrar que um elemento marcante de sua personalidade era a não repetição.
Picasso não gostava de se repetir e sim de novas emoções a cada dia. Entre as 20 mil e poucas obras que produziu deixou a sua marca de mestre. Foram  75 anos dedicados às artes plásticas influenciando gerações de artistas em todo o mundo. O estilo cubista que ele e Braque criaram em fins da primeira década deste século foi um sucesso mundial.
E o Brasil não poderia ficar de fora das manifestações de reconhecimento pelo que Picasso representa para as artes. Assim a Fundação Nacional de Arte-Funarte com o apoio de uma empresa privada inaugura hoje no Rio de Janeiro a exposição Pablo, Pablo! Uma Interpretação Brasileira de Guernica, com obras concebidas por vinte artistas e entre estes o baiano Sante Scaldaferri. Os outros participantes são José Alberto Aguillar, Milôr Fernandes, Antônio Henrique Amaral, Carlos Scliar, Caulos, Chico Caruso, Claudius Silvius, Elifas Andreato, Germano Blum, Gianguido Bonfati, Guima, Humberto Espíndola, Henfil, Ivald Granato, Lan, Jaguar, Rubens Gerchaman, Siron Franco e Ziraldo. A escolha dos artistas foi feita por uma Comissão composta por Frederico de Morais, Geraldo Edson de Andrade e Mário Barata e a ideia de organizar Pablo, Pablo! Uma Interpretação Brasileira de Guernica com uma exposição de trabalhos sobre uma obra de Picasso em vez de uma mostra de quadros do artista, foi de Consultoria para Projetos Especiais da Funarte e se insere dentro da linha de promoção não convencional.
A mostra fica na Galeria Sérgio Millet, no Rio, até o dia 13 de novembro, irá a Brasília, São Paulo e Curitiba. Seria o caso da Fundação Cultural do Estado entrar em contato com a Funarte para trazer a mostra a Salvador.

GUERNICA

Em 1937, Picasso pintou, para o Pavilhão Espanhol da Exposição Internacional de Paris, sua célebre Guernica, óleo de 349,3cmx776,6cm. Nos anos 40, o imenso quadro foi emprestado, com consentimento do artista, ao Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, só voltando à Espanha este ano, depois de transformar-se em símbolo de protesto contra o  autoritarismo, a guerra, o massacre às populações civis. Por vontade de Picasso, o quadro só deveria voltar a sua pátria quando as liberdades democráticas fossem restabelecidas no país. A tela evoca o bombardeiro de Guernica Y Luno, cidade santa do país basco espanhol e antiga capital de  Vizcaya, pela aviação alemã aliada ás forças insurretas, durante a Guerra Civil Espanhola. Expressão do mais trágico protesto, reúne em si temas diversos de períodos anteriores da produção do pintor, como o Minotauro e a corrida.Representa, ainda, o marco inicial da fase mais sombria e violenta de sua pintura.

O GÊNIO DE UMA ÉPOCA

Poucas pessoas conseguiram exercer tão grande influência na arte do século XX quanto Pablo Picasso, nascido há quase 100 anos (25 de outubro de 1881) em Málaga, na Espanha. Quando morreu em 1973, aos 92 anos de idade, havia produzido cerca de 20 mil quadros, gravuras, esculturas, desenhos, gravuras, esculturas, desenhos, montagens, colagens e cerâmicas.

Pablo Ruiz Picasso começou a pintar imitando o pai, professor de desenho na Escola de Belas-Artes de San Telmo. Muito cedo já podiam ser notadas a segurança do traço e a grande capacidade de observação.
Aos 10 anos recebe os pincéis e a paleta do pai. Começa a carreira do jovem Pablo.
Em 1895, José Ruiz Blasco, Maria Picasso Lopez e Pablo instalam-se em Barcelona, depois de uma escala em Madri, para que o pequeno pintor conhecesse o Museu do Prado. Mais tarde, Picasso afirmaria que esta experiência foi inesquecível. Já instalados em Barcelona, Pablo é matriculado na Escola de Belas –Artes de La Lonja, antes de atingir a idade regulamentar. Suas obras deste período são marcadas de um academismo rigoroso, apesar de admiráveis para a idade do autor.
Aos 16 anos viaja para Madri e, ao invés de estudar pintura, prefere conhecer melhor a capital espanhola e fazer freqüentes visitas ao Museu do Prado. De volta a Barcelona um ano mais tarde, passa a freqüentar a cervejaria Eis Quatre Gats, aberta às mais avançadas correntes artísticas e intelectuais da época. Ali faz sua primeira exposição, em fevereiro de 1900, com desenhos e retratos de seus amigos. Em dezembro do mesmo ano, toma contato com a arte francesa.Desta primeira experiência parisiense nasceram  os quadros El Final Del Número e Le Moulin de La Galette. (Artigo de Rosa Maria Subirama, diretora do Museu Picasso de Barcelona.)

A FASE AZUL
Retrato de Suzanne Bloch,
 de Picasso
Em janeiro de 1901 funda em Madri com um amigo catalão a revista Arte Jovem. Este período produz nele uma mudança de estilo.
Passa a predominar em sua pintura um monocromatismo azulado e a representação de pessoas pobres. É o início da chamada fase azul. Em fins de 1902, o pintor faz nova viagem a Paris, mas logo volta a Barcelona. O predomínio do azul começa com as obras inspiradas pela morte de seu amigo Casagemas e culmina com a La Vida.
Em abril de 1904, Picasso abandona definitivamente Barcelona como lugar de residência e se instala em Montmarte, Paris.
Pouco depois conhece Fernande Olivier, com quem vive até 1911. A partir daí, predominam em seus quadros os tons rosados-é a chamada Fase Rosa. A temática também muda. Ele abandona a pintura de seres pobres e desamparados e passa a se inspirar principalmente em figuras e cenas de circo (arlequins, acrobatas, saltimbancos).
Exemplos importantes desta fase são A Família do Saltimbanco, (1905), A Morte de Arlequim; (1905).

O CUBISMO

Em 1906-1907, a pintura de Picasso sofre transformação fundamental. No Retrato de Gertrude Stein nota-se uma intensificação  dos elementos formais. Nesta mesma linha ele fez o seu Auto-Retrato ( o pintor com a paleta), em 1906. No ano seguinte, depois de muitos esboços e estudos, ele termina Les Demoiselles d’Avignon, ( Foto ao lado) quadro de transição, mas de capital importância. É o ponto de partida do cubismo que já está nascendo em sua mente. Picasso fica  conhecendo Georges Braque, com quem vinha colaborar na fundação e desenvolvimento do cubismo. Inspirando-se em Cezzanne, pinta uma série de naturezas-mortas,nas quais as formas são simplificadas, tendendo para a geometrização. A partir de 1909, as possibilidades do cubismo são explorados com maior profundidade. Em fins de 1909, faz suas primeiras paisagens cubistas quando passa a aplicar este processo aos retratos. A Cabeça de Mulher, de 1909, é um bom exemplo. Em fins de 1912 aparece a primeira collage, técnica que utiliza na composição de papéis e recortes de jornal.
Exemplos típicos desta fase são o Retrato de Menina e Viva a França. Ao estourar a Guerra Mundial, Picasso está em    em companhia de Eva Gouel, que   chamado  para o lugar de Fernando Olivier. Em outubro regressam a Paris.

A FASE  CLÁSSICA

Em 1916, o então jovem escorces Cocteau convence o artista a colar com ele e com Erick Satie em um trabalho em balé russos de Serge Diaghilev  trabalho Parade, Picasso faz fundo, cenários e o   casa-se com Olga Khoklova .Nesta época, Picasso faz uma série de pinturas escultóricas fortemente impregnadas de classicismo. A obra mais representativa deste novo estilo é Mulheres na Fonte, de 1921.
Em 1924, Picasso trava relações com movimento surrealista, mas não adere a ele.Picasso e os jovens surrealistas coincidem em uma concepção de fundo: a arte expressa o que a natureza não pode expressar.
Mas as diferenças entre eles eram importantes: para os surrealistas, Picasso estava por demais apegado ao mundo exterior, ao objeto e por demais afastado do mundos dos sonhos. EM 1925, o artista inicia um novo gênero de abstração, aproveitando as descobertas da fase cubista.
Deste período são A Dança, O Atelier da Modista e Mulher Sentada. O interesse pelo volume e pela massa, que reaparece em suas obras, leva-o a se preocupar novamente com a escultura.
Em 1935, o casamento com Olga chega ao fim. Sua companheira agora é Marie-Thérése Walter, de quem tem uma filha, Maya. É uma época difícil e agitada da vida de Picasso. Em 1936 começa a Guerra Civil Espanhola. No ano seguinte ele realiza as águas fortes de Sonho e Mentira de Franco e sobretudo seu grande mural Guernica.
Em 1939, ano em que explode a II Guerra Mundial, Picasso se instala em Royan, perto de Bordéus, onde pinta uma série de paisagens carregadas de colorido e vitalidade. Durante a ocupação volta a Paris e se encerra em seu estúdio. É desta época uma série de retratos de mulheres sentadas, principalmente de sua nova companheira Dora Maar. Picasso se interessa pela litografia e inicia relações com Françoise Gilot, com quem terá dois filhos, Claude e Paloma.
Em 5 de outubro, após a libertação de Paris, o jornal L’Humanité anuncia a adesão de Picasso ao Partido Comunista. Deste compromisso político nascerão em 1951 e 1952 três grandes quadros: Massacre na Coréia, A Guerra e A Paz. Em 1949 pedem-lhe um trabalho para o Congresso Mundial da Paz,a se realizar em Paris. Ele escolhe uma litografia de uma pomba feita em janeiro deste ano. É a famosa pomba da paz que dará volta ao mundo.

Em 1950, Picasso doa à população de Vallauris , no litoral francês no Mediterrâneo, o grupo escultórico  O Homem do Cordeiro. (Foto) Nesta cidadezinha ele havia se iniciado na arte da cerâmica em 1947. O artista se dedica Mulheres na Fonteca a criar obras de grandes pintores do passado com o Retrato de um pintor segundo El Greco Em 1950 , Moças às Margens do Sena, segundo Colbert , 1949. Em 1957 em´preende o ciclo das Meninas segundo o quadro de Velásquez, em setembro interrompe este trabalho obsessivo para  se distrair pintando as pombas que vê de sua janela. A luz e o colorido do Mediterrâneo impregnam as telas que executa então com muita destreza.
Em 1951, Picasso se casa do Jaqueline Roque e se instalam na Mansão Notedrame de Vie, em Mougins , seu último domicílio. Em fevereiro de 1963 Picasso se encerra em seu estudo obcecado pelo tema o Pintor e Seu Modelo, e no fim do ano já havia pintado 50 telas sobre ele. Nas telas desta época Picasso põe em discussão o seu ofício de pintor, nos introduzindo o seu mundo pessoal e mostrando a sua luta por agarrar-se a essência de seu trabalho. Entre março e outubro de 1968 realiza uma série de gravuras que ficaram conhecidas como a série Erótica – 347 ao todo – Três anos depois executada outra série de 156 gravuras sobre temática semelhante. Em 1972 Picasso volta a vista para si mesmo, pela última vez com auto-retrato. Morre a 8 de abril de 1973 em Mougins e é enterrado em seu castelo de Vauvenartes , perto de Aix-em-Provence.

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