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sábado, 30 de agosto de 2025

MUSEU DE ARTE POPULAR JURACI DÓREA REÚNE IMPORTANTE ACERVO

Entrada principal do Museu de Arte Popular 
Juraci Dórea, na fazenda  Garajau.
Uma das formas de expressão artística mais autêntica é a arte popular por representar as tradições, a cultura e a identidade de um país. Assim através de esculturas, pinturas, rendas,  gravuras, artesanato, e outras manifestações artísticas os locais vão se expressando de uma forma simples e original. Esses artistas /artesãos estão fora das academias e sua inspiração vem do que observam, lhes tocam e são levados a se expressar através a cerâmica com as esculturas de barro, madeira, ferro e fibras naturais, com tecidos a fazer suas bonecas de pano, couro com suas selas e vestimentas de vaqueiros ornamentadas, suas pinturas, cestarias e rendas. Eles têm grande importância por preservar e retratar as lendas, tradições e crenças d a população de  cada região do país, e sempre você vai encontrar beleza e diferenças nos traços das obras da arte popular simples do interior do Brasil. Aqui no interior da Bahia perdido neste mundão de caatinga que teima
em resistir existe um local onde pérolas desta arte popular estão expostas ao público. Trata-se do Museu de Arte Popular Juraci Dórea, localizado no coração da caatinga entre as cidades baianas de Ruy Barbosa e Macajuba, na fazenda Garajau, distando 295 km da Capital, no Centro-Norte da Bahia. Um local especial entre pedras, cactos e árvores retorcidas que compõem este cenário único para a guarda de obras de grandes mestres da arte popular espalhados por este Brasil continental. Este museu é fruto do trabalho e esforço de um ex-colega da velha Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, o Aécio Pamponet, uma mistura de político e caçador de obras de arte popular. 
Esta escultura ao alto é de Fernandes Rodrigues, Vitória de Santo Antão, em Pernambuco. Vejam a expressividade do seu olhar e a proporcionalidade de seu corpo. Um artista de grande talento.

Escultura da artista Nena,
cidade de Capela, Alagoas
O Museu de Arte Popular Juraci Dórea fica situado dentro da fazenda Garajau pertence ao casal Aécio Pamponet e sua esposa Selma de Paula, psicóloga aposentada do TCU. O acesso ainda é feito através uns trinta quilômetros de uma estrada vicinal de terra batida, quando o visitante que nunca viu um pedaço de   caatinga passará a conhecer as árvores retorcidas, pedras e muitos cactos como o xique-xique, mandacaru, cabeça- de- frade e morros. É um cenário bem diferente dos que vivem em Salvador ou mesmo outras cidades das regiões do sul e sudeste do Estado. O museu conta com mais de 2.500 peças e este número tende a aumentar porque o casal continua adquirindo peças importantes e também recebendo doações de amigos e até mesmo de visitantes. O sociólogo Aécio Pamponet adiantou que atualmente está empenhado em finalizar sua transformação num instituto para assim garantir sua continuidade após a morte do casal. A Bahia já teve um importante Museu de Arte Popular criado em novembro de 1963 e inaugurado com a exposição Nordeste, por iniciativa de Lina Bo Bardi, que ficava num
O casal Selma de Paula  e Aécio Pamponet,  
criadores do museu , com Juraci Dórea
e esposa Selma Soares, museóloga.
imenso galpão ao lado do Museu de Arte Moderna, no Solar do Unhão. Acabaram com o museu no início dos ano 2000 e algumas de suas peças estão numa coleção no Solar do Ferrão, pertencente do governo do Estado. Existem outros museus de arte popular na Bahia a exemplo do Museu de Canudos onde estão expostos os restos mortais de Antônio Conselheiro e objetos da época da saga dos beatos. 
O Museu de Arte Popular Juraci Dórea tem várias esculturas em tamanho natural em barro como as do escritor e contador de histórias o paraibano Ariano Suassuna (1927-2014)   do poeta e cantador cearense Patativa do Assaré (1909-2002)  do educador pernambucano Paulo Freire (1921-1997).  Os criadores do museu  já encomendaram as esculturas de Bule-Bule, este inclusive tem um espaço com seu nome, e de Juvená, da famosa barraca em Itapuã, Salvador.

                                        SUA ORIGEM

Durante nossa conversa o Aécio Pamponet discorreu sobre a origem do Museu de Arte Popular Juraci Dórea. Disse que tinha adquirido a fazenda Garajau de quatrocentas tarefas e como estava improdutiva decidiu entrar com um projeto

.
junto ao Banco do Nordeste para a criação de cabras, já que a região de caatinga é propícia para a criação desses animais que têm rusticidade e aguentam a seca. Porém, o projeto fracassou porque depois descobriu que o pessoal da região não apreciava muito a carne de bode, e sim de carneiros. Resolveu abandonar o projeto. A criação de cabras exige muitos cuidados, especialmente no combate às verminoses e dificuldade de mantê-las dentro do espaço da fazenda porque é um animal arisco e que mesmo com cerca de sete e oito fios de arame e até elétrica ela cava e foge. Sua carne tem um sabor diferente que alguns chamam de ranço outros de reimosa. Mas, na realidade é uma carne magra, saborosa e muito apreciada no Nordeste. Outro problema para criação de caprinos hoje em dia é a  falta de mão de obra qualificada e confiável. Acima a escultura em tamanho natural de autoria de Fernandes Rodrigues em homenagem ao escritor Ariano Suassuna e o poeta Patativa do Assaré,  grandes personagens nordestinos. O gato branco resolveu  aparecer na foto .

Voltando ao Museu de Arte Popular Juraci Dórea o casal Pamponet vinha comprando há mais de vinte anos peças importantes de artistas populares nas suas viagens pelo interior do país. Sua coleção cresceu tanto que amigos mais próximos sempre diziam que deveriam tentar fazer um museu. Foi assim que a ideia foi criando força e “terminamos iniciando a construção de um espaço para colocar as peças na fazenda Garajau e contratando uma museóloga para catalogar

as peças. A coleção continuou a crescer através de compras de novas peças como também começaram a aparecer as primeiras doações”. Foi assim que Aécio Pamponet e Selma de Paula passaram a construir novos espaços para colocação dessas peças, que hoje abrigam a mais de 2500 peças dos mais importantes artistas de arte popular do país. E a coleção continua crescendo. Hoje é um ponto turístico e de aprendizagem onde alunos de escolas públicas e privadas da região costumam aparecer para conhecer o museu e receber informações sobre a importância da arte popular e também saber detalhes sobre seus criadores. Vemos ao lado a  primeira obra adquirida do museu de autoria de Zezinho de Tracunhaém, Pernambuco e tem 1,80m de altura.

O nome Garajau da fazenda foi inspirado num cesto quadrado que os índios e depois os quilombolas usavam para carregar galinhas, objetos de cerâmica e outros tipos de mercadorias que levavam para vender nas feiras livres da região e voltavam com produtos para seu consumo. Eles se assemelham aos caçuás muito utilizados no Nordeste para transporte de mercadorias no lombo dos animais, mas que tem uma forma diferenciada em curva parecendo U. Informou  Aécio Pamponet que a primeira peça significativa de sua vasta coleção que hoje integra o museu foi a de um São Francisco de Assis em tamanho natural, de autoria do pernambucano  Zezinho do Tracunhaém. As obras maiores ficam espalhadas ao

Pintura de Gildásio Jardim , de
Padre Paraíso, Minas Gerais.
redor das sete unidades que compõem o conjunto do museu. Entre as peças importantes tem oito do Mestre Vitalino. Seu nome de batismo é Vitalino Pereira dos Santos, (1909-1963), foi talvez o mais importante artesão, ceramista popular da História do Barro em nosso país. O Museu recebeu de doação um acervo de peças de Manoel Eudócio Rodrigues, considerado o último discípulo do Mestre Vitalino, era do Alto do Moura, em Pernambuco, nasceu em 1931 e faleceu em 2016, aos 85 anos, porém seu legado permanece firme e forte com três dos seus nove filhos. José Silvano, Luiz Carlos e Ademilson Rodrigues são os responsáveis por manterem vivo o legado do patriarca. Por falar em Pernambuco é bom salientar que é um dos estados mais ricos em arte popular e seus governos através dos anos vêm promovendo com força esta atividade criativa. 
O museu tem várias peças de Zezinho de Tracunhaém batizado José Joaquim da Silva, fez da arte santeira a sua expressão maior, tornando-se um dos mais importantes artistas populares do Brasil, fonte de inspiração e mestre de dezenas de artesãos, tendo obra escultórica encontrada em acervos de igrejas, museus e coleções particulares,
Obra de Irinéia, da União dos
Palmares, Alagoas.
como o Museu de Arte Contemporânea (PE), Museu Casa do Pontal (RJ) e Palácio do Planalto. Nasceu no dia 5 de julho de 1939, no município de Vitória de Santo Antão. E faleceu em 2019. 
Já o Mestre Fernandes Rodrigues, batizado Fernandes Rodrigues de Oliveira é um grande observador e estudioso da anatomia humana. Tem esculturas, bustos e monumentos, inspirados na cultura nordestina, sua história e sua gente - anônimos vaqueiros e políticos. Sua arte pode ser encontrada tanto em amplas praças públicas como em acervos de colecionadores em todo o Brasil. Fernandes Rodrigues de Oliveira, o mestre Fernandes Rodrigues, nasceu no Engenho Cacimbas, zona rural do município de Vitória de Santo Antão, Mata Sul do Estado, no dia 11 de julho de 1963. Costuma dizer que a vida o encaminhou para a arte e que nada mais fez do que atender ao chamado do barro. É um artista que domina grandes formatos, em trabalho que surpreende pelo realismo, expressão. Como destaque o museu conta com dez obras do artista visual Juraci Dórea, que dá nome ao museu, inclusive uma escultura abstrata feita de couro cru e varas, que fica a céu aberto. Possui  ainda obras do Mestre Espedito Seleiro, nasceu em 29 de outubro de 1939 em Arneiroz, cidade do Sertão dos Inhamuns, Espedito Seleiro representa não apenas a cultura e a criatividade cearense, mas também era figura importante do Nordeste brasileiro. Mestre Espedito Seleiro está vivo e celebrou 85 anos em outubro de 2024, sendo reconhecido como um patrimônio cultural
Obra de Mestre Pintor,
Petrolina, Pernambuco.
brasileiro. Ele é um renomado artesão de couro, famoso por transformar a arte em couro em peças que celebram a cultura nordestina, e recebeu diversas homenagens em vida, incluindo a Ordem do Mérito Cultural, em 2025. Obras
de Maria Geralda, do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais e  de João das Alagoas, de Capela, Alagoas, autor de um boi imenso de cerâmica que fica na orla de Maceió. Ele tem uma técnica diferenciada porque  borda com o barro histórias de casamentos, bumba-meu-boi, nas superfícies externas de suas esculturas, em alto e baixo relevo. É um dos mais importantes escultores populares da atualidade no Brasil. Obras de Sebastião Wilson Ferreira de Amorim, conhecido por Mestre Tiago Amorim, exerce outras funções dentro do campo artístico, como pintor e desenhista. Apesar de ter nascido no município de Limoeiro, no dia 09 de janeiro de 1943, foi em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, que ele desenvolveu como artesão.  Suas cerâmicas são muito apreciadas em todo o país. As máscaras de José de Tertulina, conhecido como Zé Crente é coveiro, pedreiro e escultor em madeira. Vive na Ilha do Ferro, em Alagoas, seu trabalho 
Obra de Emanuel, santeiro
de Maragogipinho, Bahia.
une tradição e criatividade na produção de peças multicoloridas que são a cara do Brasil, também estão presentes no museu baiano. Tem ainda obras de vários outros artistas/artesãos como de
Irailda, João Carlos e Veronice; Dona Irinéia, quilombola de Muquém de União dos Palmares, em Alagoas. Seu nome é Irinéia Rosa Nunes da Silva e é uma ceramista popular reconhecida em todo o país e faz parte de um grupo de remanescentes quilombolas do povoado de Muquém, município de União dos Palmares, zona da Mata alagoana, que fica próxima à Serra da Barriga, terra do famoso quilombo dos Palmares, do quilombo Zumbi. Ela nasceu em 1949 e ainda produz;  de Gerard, de Barra do Rio Grande que cria esculturas de santos católicos e orixás, ricamente ornamentadas e com vestes volumosas, de acordo com a tradição barroca. Com uma paleta de cores bem definida e suave, as esculturas são majestosas, independentemente do tamanho. Obras de Acácia e Cotrim, de Rio de Contas; Emanuel, Rosalvo, João,
Espedito Seleiro, de Nova
Olinda, Ceará.
 Miro, Almerentino e
 do ceramista baiano Taurino Silva, mais conhecido como Zé das Bonecas, gosta de desafios. Convivendo com muitos artesãos em Maragogipinho, ele está procurando sempre criar coisas novas. Foi assim que nasceu sua peça mais famosa a Baiana com Tabuleiro, que hoje integra o acervo de arte popular brasileira do Museu do Folclore Edison Carneiro, instalado no Rio de Janeiro. Ainda tem muitas outras peças, algumas ainda sem identificação de artistas anônimos que vivem em seus rincões criando e se expressando como forma de se comunicar. Informou ainda Aécio Pamponet que a fazenda Garajau onde fica o Museu de Arte Popular Juraci Dórea possui instalações de hospedagem para pequenos grupos e que maiores informações podem ser obtidas através do e-mail aeciopamponet@gmail.com ou pelo telefone 71 988832441.

                              BAHIA TERRA DO JÁ TEVE

A nossa Cidade tinha o seu Museu de Arte Popular que foi inaugurado em 1963 no conjunto arquitetônico do Solar do Unhão, construído no século XVII, com a exposição Nordeste sob o comando da arquiteta Lina Bo Bardi. Segundo escreveu em 2021 a arquiteta e design Beatriz Sallowicz "A mostra temporária e única aberta ao público contou com empréstimos de diferentes coleções particulares e acervos museológicos para apresentar uma extensa reunião de objetos variados. A exposição que a gosto da arquiteta teria sido intitulada Civilização Nordeste acusou posturas de classe pouco relacionadas com o conhecimento do que qualificou como a "atitude progressiva da cultura popular ligada a problemas reais". 

Peças do ex-Museu de Arte Popular da Bahia
agora Coleção Lina Bo Bardi.
Museu de Arte Moderna da Bahia, e ao lado o Museu de Arte Popular. Ela mesma viajou por vários municípios baianos e de outros estados recolhendo peças de arte popular como ex-votos, carrancas, ferramentas, símbolos religiosos, esculturas de barro, madeira e ferro, e muitos outras manifestações culturais, e ao lado do Museu de Arte Moderna dedicou um amplo espaço para o Museu de Arte Popular. Mas, veio um "iluminado" no governo de Antônio Lomanto Júnior  resolveu acabar com o museu, e o seu acervo ficou durante anos perdido em algum depósito empoeirado. Atualmente transformaram o museu na Coleção Lina Bo Bardi e colocaram no Solar do Ferrão, no Pelourinho. Veja que de lá para cá não evoluiu, ao contrário se transformou numa coleção. Sabemos que o museu é um ser vivo, dinâmico que precisa constantemente de aumentar o seu acervo preservando a memória cultural e promovendo mostras e outros eventos para atrair e educar o seu público.  
Às vésperas de completar setenta e seis anos de existência outro "iluminado" do
Governo do Estado na administração de Rui Costa (PT) decidiu em dezembro de 2015 extinguir o Instituto Mauá que era um desses órgãos de excelência que funcionava num majestoso prédio localizado no coração do Porto da Barra, um local estratégico para visitação pública. Lá ficavam expostas peças dos principais artesãos da Bahia e a entidade era um polo incentivador do artesanato com ações em todos os municípios baianos . O Instituto Mauá foi criado através o decreto-lei nº 11.275, em 20 de março de 1939 e era definido em seu portal na internet como "instituição de legitimidade na valorização de importante patrimônio artístico e cultural do Estado.”

O Instituto Mauá promovia a arte popular
em todo o Estado da Bahia e realizava
feiras para comercializar suas obras.
Seguindo ao contrário dos outros estados, a Bahia vive estagnada neste setor. Basta citar o caso de Pernambuco, um estado pequeno, mas que tem suas tradições culturais, especialmente a cultura popular como um dos suportes mais importantes do seu desenvolvimento turístico e cultural atraindo milhares de visitantes. Aqui se limita a fazer uma pequena feira anual em Maragogipinho e os artesãos de lá não recebem quase apoio. Basta dizer que a Feira Nacional de Negócios do Artesanato – Fenearte, de Pernambuco,  é a maior e mais importante do Brasil. Calcula-se que a Bahia tem cerca de onze mil artesãos e a maioria deles com alguma relevância e foram cadastrados pelos técnicos do ex-Instituto Mauá.

sábado, 23 de agosto de 2025

SALOMÃO ZALCBERGAS REGISTRA O COTIDIANO DO VALE DO CAPÃO

O artista Salomão Zalcbergas
em seu ateliê no Vale do Capão
O artista Salomão Zalcbergas registra com seus pincéis a vida cotidiana e as lembranças do passado dos moradores da Chapada Diamantina, especialmente
do Vale do Capão, distrito de Palmeiras, interior da Bahia, com uma pintura autoral que lembra de longe as ilustrações dos antigos Almanaques. Ele cria composições do dia a dia dos moradores dos povoados e da zona rural  envolvendo-os num ambiente onírico misturando tintas lilases, azuis, amarelas e vermelhas . Com seu traço inconfundível  vai criando as histórias de personagens da região presenciadas pelo artista ou contadas por outros personagens mais velhos especialmente do Vale do Capão. Ele vive neste ambiente há mais de  quarenta anos e já vivenciou muitas dessas histórias.
 Quando digo que seus traços lembram os Almanaques é bom saber que essas publicações eram disputadas no século XIX quando no início do ano os comerciantes desses rincões do Brasil distribuíam aos seus principais clientes. Além do calendário do ano traziam diversas informações úteis, poesias, trechos literários, anedotas , curiosidades, e sempre com farta ilustração. Essas lembranças da terra onde vive e trabalha o artista paulista mostra as ações do cotidiano bucólico e da vida simples desta gente que vive o seu dia a dia repetindo os mesmos costumes de outrora como cozinhando no fogo de lenha, colocando o feijão que colheram na roça para secar no terreiro, socando o milho num pilão de madeira  para fazer o cuscuz, prosando na frente da casa, tomando uma pinga na bodega. Por ser uma região onde já se garimpou muitos diamantes, quando chove moradores locais pegam as bateias e sobem a serra para garimpar algum diamante, com o sonho de enriquecer. Estes e outros costumes da região da Chapada Diamantina são motivos de inspiração para este filho de lituano com uma paranaense descendente de russos  que vieram morar nas  bandas paulistanas, onde se conheceram e casaram.

Salomão mostrando o material  de suas
múltiplas atividades no campo das artes.
Com o tempo tornou-se personagem vivo da localidade do Vale do Capão, com seu, cabelo longo aloirado já embranquecendo , esguio e ostentando uma barbicha grisalha é reconhecido por todos que moram na região. Este é o artista Salomão Zalcbergas um homem simples, de fácil conversa e um riso sempre pronto para se expressar. O Capão, como chamam os locais, é um dos destinos   mais procurados pelos que gostam de curtir a vida simples do campo em contato com a natureza exuberante com seus morros e cachoeiras que se lançam pelos cânions deixando aos ouvidos sensíveis aquela sensação de paz. Dizem que lá tem uma energia especial que proporciona mais disposição e alegria de viver. Tem cerca de dez quilômetros de extensão e seu nome verdadeiro é distrito de Caeté-Açu e pertence ao município de Palmeiras, situado na região norte do Parque Nacional da Chapada Diamantina, região central do estado da Bahia. É importante dar esta descrição geográfica para entender como um paulista filho de um lituano com uma paranaense veio morar no Capão. Primeiro moraram em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador onde ele se formou na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, primeiro em bacharel em Artes Plásticas e posteriormente em licenciatura de Artes Plásticas e Desenho. Casou e teve um filho que hoje é guia turístico na região. Anos depois de um novo relacionamento, que já dura algumas décadas, tem outro filho que é fotógrafo e o ajuda nas redes sociais e em serviços de mídia eletrônica.

                                         SUA TRAJETÓRIA

Os Tropeiros em sua saga de
transportar mercadorias.
O Luiz Salomão Salgado Zalcbergas nasceu em vinte e cinco de janeiro de 1952 em São Paulo capital. Com três anos de idade seus pais se mudaram para o Rio de Janeiro e nos anos 1958/59 estudou o jardim de Infância na Escola Cícero Pena. Do Rio de Janeiro lembra apenas que o apartamento onde moravam era em cima de uma loja da Casas da Banha, na Rua Figueredo Magalhães, no bairro de Copacabana. De suas lembranças quando criança ressaltou que gostava de comer casquinhas de sorvete nas sorveterias e bares do bairro e de tomar banho de mar. Depois de cinco anos vieram morar em Salvador. O seu pai o imigrante lituano Samuilas Zalcbergas e sua mãe Eyeda Salgado Zeppin enfrentaram um período de dificuldade financeira e depois de cinco anos no Rio de Janeiro decidiram vir para a Bahia. Sua mãe também tem descendência de russos e nasceu em Paranaguá, no Paraná. O seu avô materno embora tenha nascido na Argentina,    era filho de russos da região da Mongólia, por isto sua mãe tinha uns traços meio asiáticos e com os cabelos muito lisos, lembrando de índios.

A lida no campo um dos temas do artista.
O Salomão Zalcbergas acompanhava com atenção, quando criança, o trabalho de gravação de seu pai, que aprendeu este ofício na Alemanha. Ele fazia o desenho ou usava o que o cliente trazia. Passava o desenho para uma massa vermelha, que não soube identificar, e depois moldava a peça no gesso e fundia em alta temperatura. Esta técnica de desenho que ele praticava é chamada de pantografia. Seu pai reproduzia os desenhos de santinhos, moedas, medalhas comemorativas, e outros objetos que desejava e com o uso do pantógrafo ampliava ou reduzia as imagens de forma mecânica, mantendo as proporções originais. Para isto ele trabalhava com o pantógrafo que é um instrumento com barras articuladas que ao serem movidas sobre o desenho original, reproduz o desenho na escala que o artista deseja.  Chegou inclusive a trabalhar na Casa da Moeda e fez uma medalha de ouro para uma data comemorativa do Banco Econômico da Bahia, segundo lembra Salomão Zalcbergas.

Amigos se encontram na bodega para 
tomar uma pinga e jogar conversa fora.
Quando decidiu trazer a família para a Bahia veio vender ações da indústria americana Willys que fabricava jeeps. Viajou muito pelo interior da Bahia vendendo aos comerciantes e fazendeiros baianos essas ações. Ficaram morando na Rua Belo Horizonte e depois na Rua Frederico Schmidt, no bairro da Barra. Com o dinheiro da venda de ações ele passou ao ramo da construção civil e a fazer pequenas incorporações em sociedade com empresários baianos. Estávamos nos anos 60 e o Salomão Zalcbergas foi estudar na Escola Israelita, que funcionava no Campo da Pólvora próximo ao Fórum Rui Barbosa. Aprendeu a ler e escrever em hebraico e foi circuncisado. Estudou até a quinta série, participou da cerimônia bar mitzvah, em hebraico, significa filho do mandamento que marca a transição de um menino para a idade adulta religiosa, aos 13 anos. A seguir passou por vários colégios como o Colégio Ipiranga, Colégio Estadual Severino Vieira, Nossa Senhora de Lourdes, Colégio da Bahia, sempre ativo e participando das bandas. Lembra que no Severino Vieira a diretora era Amália Magalhães se interessava muito para que os alunos aprendessem não apenas o conteúdo das matérias curriculares como também algo da cultura. Finalmente, a vida da
Homem conduz a carroça com mulher em
direção ao povoado.
família havia melhorado do ponto de vista econômico e foi estudar o terceiro ano do segundo grau no Colégio Antônio Vieira, no bairro do Garcia, foi reprovado. Fez o vestibular para Engenharia Civil, na Universidade Católica de Salvador, conseguiu se classificar, mas como foi reprovado no Antônio Vieira, não conseguindo concluir o científico, seu pai ficou aborrecido e resolveu internar em Jaguaquara, no Colégio Taylor Egydio, que era muito famoso na época por sua disciplina e ensino qualificado. Como tinha sido escoteiro por muitos anos na turma Almirante Tamandaré, no Sesc, do bairro de Nazaré, enquanto estava internado passou a ajudar na recreação dos colegas. Passou seis meses e voltou para Salvador sendo matriculado no Colégio Valença, que funcionava no Campo da Pólvora, e finalmente concluiu o segundo grau.  Fez vestibular para Arquitetura, na UFBA,  e perdeu na prova de Matemática. Foi para Brasília ficando hospedado na casa de uma irmã onde fez dois vestibulares para Engenharia Eletrônica, Licenciatura de Matemática no SEUB, que abandonou depois de dois semestres, em Brasília. Fez ainda vestibular de Economia  na UDF, mas não chegou a cursar. Voltou para Salvador, e em 1975 fez um curso livre na Escola de Belas Artes com o professor Luiz Gonzaga. Lá conheceu o professor Ivo Vellame que lhe incentivou a fazer o vestibular de Belas Artes, foi quando em 1976 foi aprovado e passou a cursar o bacharelado em Artes
Esta é a Prensa de Três 
Pontos de moer cana
e para descaroçar .

Plásticas. Trabalhou com arte inicialmente participando da decoração de clubes carnavalescos em Salvador como a Casa da Itália, Associação Atlética da Bahia, dentre outros. Mesmo antes de concluir o bacharelado soube através o professor Ivo Vellame que havia uma vaga de professor assistente no Colégio Severiano Vieira. Se apresentou e foi contratado. Ao concluir o bacharelado viu a necessidade de fazer licenciatura em Desenho e Artes Plásticas para que assim pudesse ganhar mais ensinando como professor titular. Daí passou a ganhar mais e foi ensinar nos colégios Lomanto Júnior e Newton Sucupira, no bairro de Mussurunga, onde chegou a ser a ser diretor durante um ano durante o Governo Waldir Pires. Com a chegada da Central Integrada de Educação de Adolescentes – CIENA, os colégios que tinham oficinas tiveram este setor desativado e as máquinas ficaram sucateadas. 
Essa iniciativa visava a integração da educação em seus diferentes níveis, com foco na educação de adolescentes. Ensinou ainda nos Colégios estaduais Professora Noêmia Rego e Dinah Gonçalves , até se aposentar .

Neste ínterim Salomão Zalcbergas comprou um apartamento num conjunto habitacional no bairro do Pau da Lima, na localidade de Novo Horizonte onde morava com a esposa e o primeiro filho. Separou e a esposa que também

Transporte de doente na rede .
estudava na Escola de Belas Artes, da UFBA, decidiu voltar para Belo Horizonte levando o filho consigo. Anos depois decidiu vender o apartamento que já estava alugado e comprar outro. Foi através um anúncio de jornal que tomou conhecimento da venda de um apartamento na Terceira Etapa do Conjunto Petromar, de empregados da Petrobras, no bairro de Stella Maris. Foi lá e conversou com a proprietária que passou a poupança através a Caixa Econômica Federal. Comprou e recebeu o imóvel colocou grades nas janelas e portas e seguiu para o Capão com a atual esposa.

                               

MORAR NA CHAPADA DIAMANTINA

Interior de uma casa na zona rural
 com os tradicionais fogão de lenha
e o pote para armazenar
 água potável.

O artista Salomão Zalcbergas começou no início dos anos oitenta a visitar a Chapada Diamantina incentivado por amigos que naquela época cansados das grandes cidades procuravam refúgio na zona rural onde a vida é mais tranquila. Não tinha nem luz elétrica e tampouco água encanada. Anos depois como era professor do ensino estadual decidiu entrar com um projeto chamado de Prodalog -Projeto de Desenvolvimento do Artesanato Regional e conseguiu resgatar as máquinas do Colégio Lomanto Júnior e as transportou num caminhão da prefeitura de Palmeiras. Montou as máquinas e durante algum tempo ficou ensinando no Vale do Capão os alunos a manipular os equipamentos. Com as mudanças de prefeitos e a falta de incentivo terminou por desistir do projeto, fez o inventário e entregou as máquinas a Prefeitura de Palmeiras. O filho já tinha crescido e a atual esposa
Salomão  descansa em frente 
ao painel que fez no espaço
cultural no  cond. Petromar,
insistiu que voltassem para Salvador para o menino dar continuidade aos estudos. Disse que lembra que ao matricular o filho no Colégio Marízia Maior, no bairro de Stella Maris ele passou um período difícil porque os colegas faziam bullying chamando-o de caipira. O filho Yuri terminou o ginásio e fez o Artigo 101 entrou na UNIME e começou a estudar Comunicação. Resolveu ir morar em São Paulo, onde permaneceu durante cinco anos tentando a vida de modelo. Desistiu e atualmente mora no Capão.   Juntamente com seu pai e o irmão mais velho, cada um em suas casas com suas famílias, respectivas. O mais velho é guia turístico Ramiro Terra e o outro fotógrafo, enquanto isto seu pai Salomão Zalcbergas vai registrando com sua arte o cotidiano e as lembranças dos moradores da Chapada Diamantina, e espalhando sua arte em postes, janelas portas , paredes e muros do Vale do Capão.

                                 EXPOSIÇÕES E INTERVENÇÕES

Em 2005 - Emoções Humanas, Casa do Comércio, Salvador-BA. 2006 - Exposições Itinerantes nos muros do Vale do Capão, Palmeiras - BA. 2007 – Simplicidades, na Casa do Comércio, Salvador-BA; Exposição Temas Religiosos, no lobby do Hospital Salvador - Salvador-BA; Estórias da Vida no SENAC/Pelourinho, Salvador – BA. 2008 - Lembranças da Terra, no SENAC Pelourinho; Exposição Coletiva Alizarim, no lnet Comércio Salvador-BA.  2009 - Pataxós Cores e Costumes - Porto Seguro - BA; Arte sempre Viva, no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA; Cores na Chapada SENAC Pelourinho, Salvador-BA. 2010 -
Cartaz anuncia exposição.
Cores Brasilis no Teatro da Gamboa Nova, Salvador-BA Exposição ao Ar Livre no Festival de Jazz em Capão, Palmeira-BA; Saga do Café - pintura feita na parede do Associação e Correios de Capão, Palmeiras-BA; Intervenção Artística na Feira de São Joaquim -Salvador-BA; Exposição Capão, Memórias & Cores, no Foyer da Biblioteca Pública da Bahia - Salvador – BA; Exposição Itinerante Capão, Memórias e Cores, na Assembleia Legislativa da Bahia- Salvador-BA; Ocupações Artísticas no Centro de Abastecimento em Feira de Santana -BA.
2011 - Intervenção em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposições ao Ar Livre no ll Festival de Jazz em Capão - Chapada Diamantina, Palmeiras-BA; Exposição Coletiva Espicha Verão - Projeto da Bahiatursa - Ribeira -Salvador-BA; 1ª Exposição Coletiva da Sinapev-BA - Sindicato dos Artistas Plásticos e Virtuais da Bahia, Salvador-BA; Exposição Coletiva Feira de Arte do SINAPEV na igreja de Santana - Rio Vermelho - Salvador-B
A; Exposição Coletiva 4x4 no Atelier de Leonel Mattos; Exposição Coletiva Projeto Saci, Imbassaí -Mata de São João –
BA; Intervenção e Pintura ao Vivo no Festival de Jazz do Capão ,Palmeiras-BA; Exposição Othon Palace Hotel, Salvador-BA; 2013 -Intervenção e continuidade da exposição céu aberto nas paredes das casas do Vale do Capão, Palmeiras-BA; Exposição Universo das Cores - Perini da Graça. 2014- Exposição -Amem- Teatro Gamboa Nova; Circuito de Arte e Moda do Salvador Shopping - Loja Ferando; Doces Memórias do Vale do Capã
Mural feito por Salomão Zalcbergas numa
casa no Vale do Capão.
o- Palacete das Artes-Bahia; Lendas do Capão - Vale do Capão- Palmeiras-BA. 2014/15 - Intervenção e continuidade da exposição nas paredes e casas no Vale do Capão, Palmeiras-BA; Caminho das Cores - Perini da Graça, Salvador-BA; Obras em acevo particular na Itália- França - EEU Alemanha. 2015 - Circuito de Arte e Moda Shopping Salvador, Salvador-BA; Att Fair - Shopping Paralela, Salvador-BA. 2016 -Arte Cidadã - seleção Edital Centro Cultura da Câmara dos Deputados Federais, Brasília -DF.

domingo, 17 de agosto de 2025

EXPOSIÇÕES DE IEDA OLIVEIRA E LILIAN MORAIS NO MAC

Ieda Oliveira na sua bodega com Lilian Morais
 e um "cliente".
Duas exposições das artistas Ieda Oliveira e Lilian Morais estão abertas à visitação pública no Museu de Arte Contemporânea - MAC, no antigo prédio do Palacete das Artes, no bairro da Graça, local onde funcionava o Museu Rodin.  A primeira chamada Casa do pai, Escola da Filha ocupa uma área maior e mostra obras pinturas, esculturas, objetos e desenhos. O ponto alto é uma bodega que foi montada onde ela serve cachaças de vários gostos, fumo de corda e outras iguarias que ainda são comercializadas nas bodegas e botecos por este Brasil afora, remetendo à bodega de seu velho e saudoso pai. A Ieda Oliveira é artista visual, professora e pesquisadora natural de Santo Antônio de Jesus, mestre e doutora em artes visuais pela Universidade Federal da Bahia. Participou da 26ª Bienal de São Paulo, da II Trienal de Luanda e fez residência artística em Hamburgo, na Alemanha. Realmente ela criou um ambiente de bodega, daquelas bem tradicionais do nosso interior.

Obra da série Insurgência de Lilian Morais.
No mesmo andar podemos ver obras da paraibana Lilian Morais, da mostra Insurgência onde a artista trata da temática das mulheres nordestinas que ficavam nas roças e povoados nos meados do século XIX porque seus maridos saíam nos chamados paus-de-arara para trabalhar no sul do país. Alguns ao chegar ao seu destino continuavam se correspondendo com a família e enviavam dinheiro para suas esposas através de cartas registradas pelas agências de Correios e Telégrafos, porque naquela época não haviam agências de bancos por perto. Muitos faleciam por lá, outros abandonavam seus familiares e constituíram nova família onde estavam morando. Assim as mulheres tinham que assumir todos os deveres da casa e criar seus filhos, quase sempre numerosos. Entende Lilian Morais que a “insurgência dessas mulheres foi não morrer. Foi não ceder. Foi insistir em existir onde tudo ao redor pedia silêncio e desaparecimento.” Suas pinturas remetem a esta saga das mulheres nordestinas, e suas obras retratam esta história do nosso Nordeste. Ela pratica e é psicanalista, e tem preferência pela arte escultórica e também por trabalhos conceituais.  Vale a pena conferir as duas exposições.


sábado, 16 de agosto de 2025

JURACI DÓREA E SUA ARTE INSPIRADA NO SERTÃO PROFUNDO

Juraci terminando obra 
 da série Cenas Brasileiras.

O artista feirense Juraci Dórea é arquiteto, desenhista, pintor, escultor, cineasta, fotógrafo , ilustrador e poeta .  Construiu uma carreira sólida ao longo dos oitenta anos de vida e se graduou em arquitetura em 1968, pela Faculdade de Arquitetura, da Universidade Federal da Bahia. Hoje tem uma obra autoral que é reconhecida em todos os cantos do país e até no exterior, e  é um dos mais importantes artistas  baianos ainda em atividade. Já realizou várias exposições individuais e participou de inúmeras coletivas, salões e bienais, a exemplo das Bienais de São Paulo (1987 e 2021), de Veneza (1988), de Havana (1989), do Mercosul (2015) e da 3ª Bienal da Bahia (2014), levando sua arte calcada na cultura e nos valores do sertão profundo. Juraci se dedica às artes visuais há décadas, e desde a adolescência fazia sua arte de forma espontânea. Eram desenhos e depois vieram as pinturas até alcançar o tridimensional com suas criativas  e intrigantes esculturas abstratas feitas de couro cru e galhos de árvores. Sua primeira exposição em 1962 aconteceu na Biblioteca Municipal Arnold Silva, em Feira de Santana.

Afirma com orgulho que sua inspiração vem do sertão profundo que é um grande museu a céu aberto e sua principal referência. Suas obras são resultado do diálogo que mantém com a cultura nordestina e a história da arte. Inicialmente pintava os vaqueiros encouraçados com suas vestes feitas de couro curtido para enfrentar a caatinga cheia de espinhos e galhos retorcidos em busca de uma rês perdida, que se distanciou do rebanho. Esta lida me remete à infância quando chegava na fazenda Salgadinho , em Ribeira do Pombal pertencente ao meu avô Yoyô Ferreira, e o vaqueiro Tonho de Miligildo, sempre estava por lá com sua pele negra, suada, brilhando ao sol, todo encouraçado montado no seu fiel cavalo baio. Àquela hora já tinha tomado umas pingas em algum dos botecos por onde passou. Ali meu avô acertava com ele a missão de trazer um garrote que fugiu do pasto e ganhou a caatinga ou o transporte de algumas reses para o curral do matadouro para serem abatidas e abastecer a cidade de carne.

Obras da série Vaqueiros do início de
 sua trajetória.
Voltando a falar do artista Juraci Dórea ele já desenvolveu projetos que chama de séries como Projeto Terra, Estandartes do Jacuípe, História do Sertão, Fantasia Sertaneja e Cenas Brasileiras, dentre outras sem falar das menores. Disse ter se inspirado também nas ilustrações dos folhetos de cordel que vendem ainda em muitas feiras do sertão e também com a memória e tradições populares de Feira de Santana. Quanto ao Projeto Terra lançado em 1982 resultou nas esculturas de couro cru e galhos de árvores e de murais nas fachadas das casas. Ele escolhia os povoados e locais especiais como aconteceu na entrada do Raso da Catarina, localizado nos municípios de Paulo Afonso e Jeremoabo. O nome Raso se refere ao relevo plano do local, e a região é famosa por seus cânions, solos arenosos e rica história, incluindo seu papel como esconderijo do bando de Lampião quando era perseguido pelas Volantes de Zé Rufino e de outros. Seu objetivo é de aproximar a arte das pessoas e mostrar que o sertão é um território fértil para a criação. Atualmente está indo para a fazenda Tapera, que foi de seus pais, uma vez por semana caminhar na caatinga, e quando encontra uma pena de um pássaro  que pode ser de um carcará , perdiz , anu branco no chão ou espetado numa estaca ;,  um saco plástico abandonado e que está sendo destruído pelo tempo ou outro objeto qualquer que lhe inspire ele faz o registro fotográfico e esta foto vai integrar sua nova série chamada Arte Pra Ninguém.

                               QUEM É

Juraci com uma escultura de sua autoria
na zona rural da Bahia
.
Seu nome de batismo é Juraci Dórea Falcão, nasceu em quinze de outubro de 1944 na cidade de Feira de Santana onde reside atualmente. Fez o primário na escola particular Escola Ruy Barbosa criada nos idos de 1945 pela professora Valdemira Alves de Brito, carinhosamente chamada de professora Nena, e que funciona até hoje. Foi em seguida estudar no Ginásio Estadual de Feira de Santana. Ao terminar o ginásio fez o Admissão e veio para Salvador, porque sua cidade não tinha o segundo grau, e aqui se matriculou no Colégio Estadual da Bahia. Seu pai escolheu o Colégio da Bahia, como chamavam na época, porque já tinha sido aluno e também vários parentes e conhecidos. Veio morar no bairro de Nazaré na casa de um parente e depois passou a residir num  pensionato  de estudantes  localizado na Avenida Sete de Setembro.

Seis obras da série Cenas Brasileiras.
Logo depois de concluir o curso Cientifico fez vestibular para a Faculdade de Arquitetura em 1964 e concluiu quatro anos depois, retornando para Feira de Santana. Trabalhou durante uns três anos no setor de Planejamento Urbano, da Prefeitura Municipal. Abriu seu próprio escritório de Arquitetura com seu colega José Monteiro Filho. Disse Juraci Dórea “ficamos muitos anos trabalhando juntos até os anos 1980, quando passei a dividir o escritório com Everaldo Marques Cerqueira, e fizemos muitos projetos com estas duas parcerias." Entre 1994 e 1996, ele foi diretor do Departamento de Cultura do Município. Neste período, Juraci Dórea idealizou o Museu de Arte Contemporânea de Feira de SantanaNo ano de 2000 passou a ministrar aulas na Faculdade de Estadual de Feira de Santana ensinando História da Arte e Desenho Arquitetônico permanecendo até 2014, quando se aposentou. É pai de três filhos, e numa entrevista recente declarou que tem uma filha que é fotógrafa e estuda Literatura. Foi homenageado  em 2023 no Festival Literário – FLIFS, promovido pela Universidade Estadual de Feira de Santana, e este ano durante a Micareta que ocorre anualmente na Cidade . Depois de tantas andanças, exposições e mostrar sua arte na zona rural Juraci Dórea entende que “esta minha atividade intelectual não me aposenta. Tenho vários projetos pessoais e fico quase o dia inteiro dedicado à minha arte. Me dedicava à arquitetura como forma de sobreviver e prover a minha família e atualmente estou totalmente voltado para minha arte”.
                                   
                                                            OBRA AUTORAL
Escultura  de couro cru e varas da caatinga.

  Desde jovem que desenhava e sempre procurando expressar a cultura local até que expôs pela primeira vez quando da inauguração da Biblioteca Municipal Arnold Silva, em 1962. Três anos depois fez uma individual na USIS, em Salvador, que era o Serviço de Informações dos Estados Unidos - United States Information Service, responsável pela diplomacia pública e relações culturais no exterior.  Passou a partir de 1963 a procurar um estilo autoral e foi através da cultura sertaneja observando a vida dos vaqueiros e outras visibilidades enquanto desenhava, pintava e até chegar no tridimensional com suas esculturas e outras obras conceituais.

Obra da série Cartas para
Ângela.
Lembrou Juraci Dórea que sua obra vem seguindo com a mesma figuração, e que em 1975 criou os Estandartes do Jacuípe, inspirado no rio do mesmo nome que é  importante para o município de Feira de Santana e outros que são banhados por suas águas, hoje represadas na Barragem Pedra do Cavalo. Já em 1982 foi premiado pelo Museu de Arte Moderna da Bahia para fazer as primeiras esculturas de couro cru e madeira no sertão, e depois expôs no MAM-BA.  Criou várias esculturas de formas abstratas e integradas com a natureza usando o mesmo material, integrantes do Projeto Terra. 
Quando lhe indaguei como as pessoas o recebiam ao começar a criar uma escultura num povoado da zona rural disse que “não era um estranho naqueles lugares porque eu sempre passava por lá e ia conversando com os moradores. Lembro que certa vez uma senhora reclamou que seu marido tinha várias semanas sem ir para a feira da cidade. Ouvi a sua história e fiquei sabendo que o marido dela ficava na porta de sua casa tomando conta da escultura para ninguém mexer. Foi aí que falei que   não precisava ele ficar tomando conta da obra."

 Depois de escolher o local e criar uma  escultura acontecia que passadas algumas semanas da obra ali exposta a céu aberto  na zona rural os materiais que a compunham eram levados pelos moradores. São materiais muito úteis para àquela população. O couro por exemplo, era muito utilizado para fazer arreios de animais como cabrestos, cabeções, chinchas, e também cinturões para  bolsas  dos homens. A madeira usavam como caibros na construção de casas e mesmo para fazer porteiras nas roças.

Obra inspirada nas ilustrações dos cordéis
que ainda são vendidas nas feiras do
interior do Nordeste.
Disse o artista Juraci Dórea que essas esculturas não duravam muito, e que ele tem toda documentação fotográfica. Recordou que fez um mural numa casa da zona rural e uma escultura nas imediações e quando retornou em 2014 não encontrou mais nem a casa. Tudo tinha desaparecido com o tempo e que teve até dificuldade de localizar o local onde ficava o casebre feito de taipa. Lamenta não poder continuar com este trabalho que lhe era muito prazeroso principalmente quando ouvia as leituras das obras de arte feitas pelos homens do campo. "Eram leituras espontâneas e muito puras." Foi através destas obras que críticos de arte do sul do país despertaram seu interesse e em 1987 ele recebeu o convite para participar da 19ª Bienal de São Paulo, que teve  como tema principal A Natureza da Criação e foi organizada pela curadora Sheila Leirner. "O evento buscou refletir sobre a relação entre a arte e a natureza, explorando diferentes abordagens e linguagens artísticas."  Disse que recebeu o convite com surpresa e que nem conseguiu processar tudo naquele momento do convite. Daí em diante vieram os convites em 1988 para a bienal de Veneza, e em 1989 para a de Havana, dentre outros.

                              NOVE SÉRIES PRINCIPAIS

 O artista Juraci Dórea tem este lado cartesiano de ser organizado, talvez por ter se graduado em arquitetura e ter trabalhado nesta profissão durante algumas décadas. Sua produção artística ele realiza em séries e vai subdividindo nas  subséries. Aqui vou falar das nove principais séries onde o artista mostrou seu talento e criatividade. Vejamos:

 Série Os Vaqueiros – A cidade de Feira de Santana tem suas origens no século XVII, período em que se deu o povoamento por ser a local parada obrigatória no caminho utilizado para o transporte do gado e de tropeiros que iam levar suas mercadorias para Cachoeira, que era o principal centro comercial da época.  Essas manadas vinham dos estados do Piauí, Minas Gerais e Goiás, eram conduzidas por vaqueiros que enfrentavam longas jornadas, uma vez que as estradas de hoje não existiam. No local chamado de Campo do Gado até hoje é utilizado para comercialização de gado. O artista Juraci Dórea nos anos 60 se inspirou nos vaqueiros que por ali circulavam e fez centenas de desenhos e pinturas figurativas estilizadas a óleo dos vaqueiros e suas boiadas.

2-

 Série Estandartes do Jacuípe - é dos anos 70, e Juraci Dórea se inspirou nos desenhos das selas e outros arreios dos vaqueiros do sertão. Os estandartes têm origem nos reinos cristãos da Península Ibérica, e aqui os antigos artesãos usavam elementos desta simbologia na ornamentação das selas e outros objetos da indumentária dos vaqueiros.  Usando couro já tratado Juraci Dórea criou seus estandartes com esses elementos que foram muito bem aceitos pela crítica daqui e do sul do país.

 Série Terra I surge em 1981 e já é uma obra bidimensional inspirada no

espichamento de couros de bois, carneiros e cabras que o sertanejo faz para utilizar em seus instrumentos de trabalho. O couro verde, recém tirado do animal que foi abatido é limpo, e esta operação  eles chamam de descarnar, e posteriormente é esticado usando varas, que o homem tira na caatinga. Fica ali exposto ao sol até secar completamente.

rie Projeto Terra, aparece no ano seguinte como um desdobramento do anterior e aí Juraci Dórea chega ao tridimensional com suas esculturas de couro cru e varas rústicas  em permanente contato com a natureza até o seu desaparecimento. Ele já fez mais de cinquenta dessas esculturas e foram elas que mais despertaram interesse dos críticos do sul do país e do exterior. Foram essas esculturas depois destruídas pelos moradores que utilizaram o couro e as madeiras para fazer seus utensílios e cobrir seus casebres ou mesmo como peças das porteiras.

Série História do Sertão - aqui o artista se inspirou nos tradicionais livrinhos de cordel que são ilustrados com gravuras mostrando as figuras dos personagens da história. Inicialmente ele fez em casinhas de sapé da zona rural e posteriormente em placas de Eucatex  foram expostas nas feiras dos povoados e cidades de Monte Santo, e outras no sertão da Bahia. Como ficavam expostas no meio das feiras os matutos perguntavam quanto custava pensando tratar-se de um enfeite barato para levar pra casa. As reações eram as mais diversas e o artista curtiu muito esses momentos lúdicos.

 Série Fantasia Sertaneja - Juraci Dórea passou a usar esta mesma figuração inspirado nos livrinhos dos cordéis só que passou a pintar em cores variadas sobre tela e placas de madeira. Esta série é mais lírica e surgem os personagens em cenas românticas e amorosas. Apresenta cenas de amor, de ternura entre as pessoas e namorados. 

Série Ecce Homo - surgiu nos anos 90 é inspirado numa frase em latim que significa "Eis o Homem". Ela é atribuída a Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, no Novo Testamento, quando ele apresentou Jesus açoitado e coroado de espinhos à multidão, antes da crucificação. A frase e a cena são frequentemente representadas na arte cristã, especialmente no período da Páscoa.
Aí a figuração de Juraci Dórea é feita com carvão e mostra conflitos, também muito comum nas historinhas dos livretos de cordel que conta conflitos religiosos e de bandidos no sertão a exemplo da A Peleja do Cangaceiro contra a Volante, etc.

    Série Cenas Brasileiras é de 2005 foi quando ele trocou a tinta a óleo e o carvão pela tinta acrílica e as figuras grandes desaparecem e os elementos pequenos que usava como pano de fundo e mesmo para fazer a moldura das obras da série Fantasia Sertaneja agora estão em primeiro plano e em várias cores. É um trabalho mais gráfico, mais trabalhoso e minucioso.

9- 

Série Arte Pra Ninguém – está em andamento e surgiu durante suas caminhadas no mato na caatinga que faz parte da fazenda Tapera que pertenceu a seus pais. Todas às quartas-feiras ele leva sua máquina fotográfica e documenta algo que lhe toca de perto com sua sensibilidade de artista. Disse que já tem muito material desta série e que sempre algo lhe surpreende no silêncio só quebrado por seus passos nas trilhas da caatinga. Pode ser uma pena de carcará que alguém colocou numa estaca, um saco plástico azul todo rasgado que o tempo está destruindo e assim por diante.

                             Exposições Individuais

Exposição individual no MUBE, São Paulo.
O feirense Juraci Dórea poeta e artista visual dirigiu entre 1994 e 1996 o Departamento de Cultura do Município de Feira de Santana. Idealizou, em 1996, na administração do professor José Raimundo Pereira de Azevedo, o Museu de Arte Contemporânea de Feira de Santana.  É mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Participou, a partir dos anos 60, de numerosas exposições no Brasil e no exterior, entre elas: Em 1962 – Primeira exposição, na Biblioteca Municipal Arnold Silva, Feira de Santana-BA -. 1965 - Na Galeria USIS, Salvador-BA. 1973 - Individual, na Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, Salvador-BA. 1980 - No Museu Regional Feira de Santana- BA -Individual, Exposição no MAM/BA - Salvador-Ba. 1984 - No Campo do Gado, Feira de Santana-BA. 1985  Terra - Juraci Dórea, exposição itinerante patrocinada pelo Desenbanco em Feira de Santana-BA, Canudos-Ba, e Monte Santo -Ba.  1996 - Lisboa (Portugal) - Individual, no Espaço Oikos. 1999 - Paris (França) - Projet Terre.

Exposições Coletivas

Exposição Galeria Acervo na SP-Arte.
Em 1978 -   I Salão Nacional de Artes Plásticas foi realizado no Palácio da Cultura e Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro-RJ. 1979 - 15ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal, São Paulo-SP; Mostra de Escultura Lúdica, no Masp - Prêmio de Melhor Mostra do Ano, pela APCA, São Paulo-SP; 5 Artistas Baianos, na Fundação Cultural do Espírito Santo, Vitória - ES.1980 - 37º Salão Paranaense, no Teatro Guaíra, Curitiba-PR; Proposta 80, no MAM/BA, Salvador-BA. 1981 - 4º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ- Rio de Janeiro RJ. 1983 - 5ª Mostra do Desenho Brasileiro, no Teatro Guaíra, Curitiba-PR; Quatro Dias de Arte, no Clube de C. Cajueiro, Feira de Santana -BA;36º Salão de Artes Plásticas, no Museu do Estado de Pernambuco - prêmio aquisição e Prêmio José Gomes Figueiredo, pelo conjunto de obras, Recife-PE; Artistas Contemporâneos da Bahia, no MAC/USP-São Paulo-SP. 1984 - 16º Salão Nacional de Arte, no MABH, Belo Horizonte -MG ; Coletiva, no Campo do Gado, Feira de Santana-BA; 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, Fortaleza -CE ; 37º Salão de Artes Plásticas - prêmio aquisição, Recife-PE ; 1ª Fotonordeste, na Funarte, Rio de Janeiro-RJ; 7º Salão Nacional de Artes Plásticas, no MAM/RJ- Rio de Janeiro-RJ . 1985 - 7ª Exposição de Belas Artes Brasil- Japão, em Atami  e  Kyoto no Japão; 38º Salão de Artes Plásticas, Recife-PE; 7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Brasil-Japão, Rio de Janeiro-RJ;  Velha Mania: Desenho Brasileiro, na EAV/Parque Lage, Rio de
Juraci na Bienal de Veneza.
Janeiro-RJ; Coletiva – itinerante, Santa Cruz -BA , Pedra Vermelha -BA , Acaru -BA  e Monte Santo -BA ; 3º Salão Paulista de Arte Contemporânea, na Fundação Bienal – São Paulo-SP;  7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Brasil-Japão, São Paulo – SP;  7ª Exposição de Belas Artes Brasil-Japão – Tóquio – Japão. 1986 - 18º Salão Nacional de Arte, no Museu de Arte de Belo Horizonte -MG; 
1º Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia, na Metanor/Copenor, Salvador-BA; 43º Salão Paranaense – premiado – Curitiba-PR; 7ª Mostra do Desenho Brasileiro, no MAC/PR, Curitiba-PR; 1ª Exposição Internacional de Esculturas Efêmeras -Fortaleza-CE; 36º Salão de Artes Plásticas, Recife-PE; Imaginário Tropical, no Escritório de Arte da Bahia, Salvador-BA. 1987 - Octaedro, na Galeria Raimundo Oliveira, Feira de Santana-BA; 19ª Bienal Internacional de São Paulo, na Fundação Bienal, São Paulo – SP. 1988 - 1º Salão Baiano de Artes Plásticas, no MAM/BA, Salvador- BA; 15 Anos de Exposição de Belas Artes Brasil-Japão, na Fundação Mokiti Okada M.O.A.- São Paulo-SP; 43ª Bienal de Veneza, Veneza – IItália.1989 –3ª Bienal de Havana, Havana – Cuba. 1990 - Canudos, na Fiat, Salvador-BA. 1991 - Arte - O Eterno Reciclar, no Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal- Brasília-DF; 1ª Bienal do Recôncavo, no Centro Cultural Dannemann, São Felix – BA. 1992 -A Religiosidade na Arte Baiana Contemporânea, na Galeria ACBEU – Salvador-BA. 1993 - Inauguração do Espaço Cultural Banco do Brasil, Feira de Santana-BA. 1994 - 1º Salão MAM/BA de Artes Plásticas, no MAM/BA- Salvador-BA.  1995 - Artistas da Bahia, no Espaço Cultural Ponto do Livro, Feira de Santana-BA. 1996 - Pintura e Escultura do Nordeste do Brasil, no Espaço Oikos, Lisboa -Portugal. 1997 - Um Brinde ao Café, no Espaço Cafelier, Salvador-BA. 1998 - Bahia à Paris: Arts Plastiques d'Aujourd'hui, na Galerie Debret, Paris -França; Tropicália 30 Anos: 40 artistas Baianos, no MAM/BA, Salvador-BA. 1999 –Arte-Arte Salvador 450 Anos, na Fundação Cultural de Curitiba, Solar do Barão, Curitiba-PR; Arte-Arte Salvador 450 Anos, no Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ; 100 Artistas Plásticos da Bahia, no Museu de Arte Sacra, Salvador-BA; Arte-Arte Salvador 450 Anos, no MAM/BA, Salvador-BA. 2007 -
Ilustração de autoria de Juraci Dórea.
Cenas Brasileiras, Caixa Cultural Salvador/ Galeria D. Pedro II, Caixa Cultural São Paulo-SP. 2011. O Sertão da Caatinga, dos Santos, dos Beatos e dos Cabras da Peste, Museu Afro Brasil, São Paulo; 2014. 3ª Bienal da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador-BA. 2015 - 10ª Bienal do Mercosul, Usina do Gasômetro, Porto Alegre RGS. 2017 - Memories of Underdevelopment , Museu de Arte Contemporânea de San Diego, EUA. 2018 -   Memorias del Subdesarrollo: el Giro Descolonial en el Arte de América Latina, 1960-1985, Museu Jumex, Cidade do México. 2019.  À Nordeste, SESC 24 de Maio, São Paulo-SP. 2021 - 34ª Bienal de São Paulo, São Paulo-SP; Debaixo do Barro do Chão, Museu Brasileiro da Escultura e da Ecologia, MuBE, São Paul0-SP. 2022 -- O Estado do Mundo: Museu do Atlântico Sul, Pavilhão Branco, Lisboa, Portugal.   2023 - Eu Não Enterrei Meu Umbigo Aqui, Galeria Marco Zero, Recife-PE; Fabulações Visuais, Caixa Cultural Salvador-BA; Reversos & Transversos: Artistas Fora do Eixo e Amigos nas Bienais, Galeria Estação, São Paulo-SP; SP-Arte - Rotas Brasileiras, ARCA, São Paulo-SP; Juraci Dórea, Galeria Jaqueline Martins Bruxelas, Bélgica. 2024 - Antes e Agora, Longe e Aqui Dentro, Museu Oscar Niemeyer, Curitiba-PR, , ARCO Madrid: Juraci Dórea , Galeria Jaqueline Martins, Pavilhão 9, Estande 9NLM11, Madrid, Espanha; SP-Arte Acervo Galeria de Arte, BA / Galeria Marco Zero-PE e Pavilhão da Bienal, São Paulo ;  Vai, Vai, Saudade , Museu Madre, Nápoles, Itália; Breveterno: Notas para uma Lírica Político-Mística da Estiagem, Galeria Martins & Montero, São Paulo-SP;  Era uma Vez: Visões do Céu e da Terra , Pinacoteca de São Paulo e  Artíssima  Feira Internacional de Arte Contemporânea em Turim-Itália.