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quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A BAIANIDADE DE NIDE NO SHOPPING PARALELA



A pintora Nide está expondo suas mulatas no shopping Paralela. A pintura de Nide tem a marca da Bahia com suas belas baianas negras e mulatas, às vezes com os seios abastados, outras vezes ela nos apresenta suas personagens com os seios pequenos e eriçados. As vestes me chamam a atenção, especialmente pela delicadeza com que Nide pinta lembrando os bordados e rendas. 
Seu tema é quase este, embora, inesperadamente  surgem algumas figuras de santos, mas de santos sempre ligados às crenças baianas. Diria que Nide é uma artista que transborda o sentimento baiano em suas telas cheias de singeleza no seu traços firmes.
Neste momento em que reina a tecnologia, as mensagens ultra rápidas e imagens que se desfazem num piscar de olho, Nide contribui com sua obra para perpetuar a mãe de leite, a baiana do acarajé; as rodas de samba , com  baianas e suas belas saias brancas e rodadas. Enfim, são elementos presentes na cultura baiana que teimam em resistir, apesar dos ataques de toda ordem.
Mesmo sem a preocupação com este lado documental Nide nos remete a esses tempos de alegria, de sentimentos mais humanos, quando uma mulher negra dava o seu peito para amamentar uma criança, que não era sua fosse ela uma criança  negra ou branca.
Vá visitar esta exposição que é uma oportunidade única de você ver
de perto as obras de Nide, com seu colorido que chama a atenção
e agrada pelos personagens e sua movimentação na tela. 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

SAMICO ETERNIZOU AS LENDAS DO NORDESTE EM SUA OBRA

Os dragões, as serpentes, os pássaros misteriosos e outros personagens de suas gravuras estão órfãos. Faleceu no último dia 25 de novembro, em Recife , o artista Samico que aos 85 anos ainda produzia seus trabalhos calcados nos mistérios e nas lendas do Nordeste. Aliado de Suassuna no Movimento Armorial, ele herdou o expressionismo de Goeldi e Lívio Abramo e acrescentou a cor e os espaços mais largos, além de criar uma plêiaide de personagens baseados nas lendas do nosso Nordeste. Samico ilustrou muitos livros e fez várias exposições aqui e fora do país.
Gilvan Samico sofria de um câncer na bexiga. Mesmo doente estava trabalhando sempre com suas gravuras baseadas na mitologia nordestina. Dizem que seu rigor era tamanho que desde a década de 70 produzia uma gravura por ano. Ai só os parentes mais próximos poderão confirmar esta versão.

Ele não negava a grande influência que teve das capas dos livretos de cordel e muitos de seus personagens são buscados exatamente nos versos que são lidos em voz alta nas feitas dos povoados do nosso Nordeste.São os leões,as onças, os cangaceiros,o carcará,as cobras,os lagartos, enfim bichos do Nordeste de mesmo da África que serviam de inspiração.
Sua obra brilha no colorido que fazem sobressair seus personagens e as linhas paralelas que compõem as suas gravuras. Ele criou formas depuradas e precisas hoje ,apreciadas por colecionadores de todo o mundo.
A gravura brasileira está portanto de luto com o seu desaparecimento .Lembro aqui de Hansen Bahia que embora alemão trazia também o expressionismo de seu país, porém  aqui soube aproveitar e usar as cores e ,suas gravuras estão impregnadas delas.

OS VÔOS INTERNACIONAIS DE BIDA



O artista Bida é um velho conhecido do frequentadores do Centro Histórico de Salvador, onde mantém um atelier, que sempre é visitado, inclusive por turistas. Além de pintor, é cantor e compositor e, toda sua obra está calcada nas raízes do nosso povo.
Os pés e mãos grandes de seus personagens nos lembram de Cândido Portinari, cuja maestria nos legou uma obra grandiosa e respeitada em todo o mundo. Mas, voltando a Raimundo Santos Bida ou simplesmente Bida, como ele é mais conhecido, podemos destacar na sua pintura a ocupação de grandes espaços, a cor forte e límpida, a exemplo das que iluminam a nossa Bahia. A temática é sempre calcada nos costumes , nas coisas e gente da terra. Uma pintura que tem um amálgama forte e inconfundível, que transborda energia e força, que mexe com os olhos e a imaginação de todas as pessoas que têm oportunidade de ver de perto uma tela de sua autoria .
É uma pessoa simples. Dessas que estamos acostumados a cruzar pelas ruas do Centro Histórico, de cor negra, cabelos cacheados e rosto nordestino. Fala mansa, não se nega a contar detalhes de sua infância pobre e, de sua luta cotidiana para sobreviver com dignidade de sua arte.Este é o Bida que conheci através de um amigo comum, o saudoso empresário , amante das artes plásticas e da música, Alfeu Pedreira. Ele acabara de adquirir um grande quadro ,o qual introduziu num dos ambientes da Estação Rodoviária de Salvador, e estava emocionado com a força que emana daquela obra de Bida. Me enviou um catálogo e ligou para detalhar sua descoberta e satisfação.
Agora o reencontro no atelier de Leonel Mattos, no Shopping Salvador, onde estava expondo.Natural de Nazaré das Farinhas, hoje com 42 anos de idade, Bida diz que começou muito cedo a se interessar pela arte. "Aos 10 anos meu pai, que era ferroviário" trazia alguns papéis e canetas e eu pintava sem parar. Aos 11 anos um amigo chamado Val me incentivou a visitar o Pelourinho,local onde encontraria vários artistas. Assim fiz e, tive a felicidade de conhecer o artista Gil Abelha, já falecido, que foi o grande incentivador para que me tornasse um pintor profissional.

Nesta época conheceu os mais famosos pintores  baianos e outros que aqui residiam , entre eles o argentino Carybé; os baianos Carlos Bastos e Sante Scaldaferri;  o americano Eckenberger ; o uruguaio Zelayeta. Tinha apenas 16 anos de idade e era época em que o Pelourinho foi recuperado pelo governo.

Também, salienta -  " não posso esquecer da senhora Eunice Vianna, sobrinha do então Governador Luiz Vianna Filho , onde minha mãe trabalhava de cozinheira, que me deu pincéis e uma caixa de sapatos cheia de tintas. Foi uma festa!"
Os anos passaram e Dida começou a receber convites para exposições , muitas fora do país. Foi para a Alemanha ,onde fez um painel de 40 metros por 5,8 de altura num castelo medieval , chamado de Castelo Bela Vista,além de outro de 20 metros por 1,50 metro. As obras foram transportadas daqui de avião e pesaram 280 Kg.
Ele já esteve 12 vezes expondo em cidades diferentes nos Estados Unidos;14 em Portugal, além de França,Itália,Alemanha,Inglaterra,Espanha e Suíça e, tem um convite, ainda a ser confirmado, para ir expor em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.